teologia para leigos

7 de fevereiro de 2011

NOS TEMPLOS NÃO SE PASSA NADA

    um Jesus «alternativo»…

As leituras dos evangelhos de ontem (domingo) e de hoje (segunda-feira) [Mt 5:13-16; Mc 6:53-56] são coincidentes num ponto essencial: ser sal da vida é ser clareza! – e isso cura! Cura de quê?

Na primeira, diz-se: «Vós sois o sal da terra! Se o sal se estragar com que se há-de salgar? Vós sois a luz do mundo…» E, na seguinte: «Na aldeia, povoado, casario onde chegasse, colocavam os doentes na praça e pediam autorização que lhe pudessem tocar ao menos na aba do manto, e os que lhe tocavam ficavam curados

Ao ler estes relatos, é impossível não se ficar surpreendido: os que seguiam Jesus (e que não eram estudantes de teologia, nem muito menos licenciados de teologia em 'pos-doc’…) eram «gente comum», maltrapilhos, gente estropiada e suja, desagradáveis aos olhos da sociedade – será que Jesus acreditava mesmo que esses seriam «a luz boa» que revelaria o que são «obras boas »? Como é isso  imaginável, à luz da nossa vivência das gentes da rua? Como que em espelho, os seguidores de Jesus «eram» o que se quereria que ninguém fosse. E esses, os que não serviam de modelo de felicidade para ninguém, para Jesus eram a sua ‘metodologia-negativa’ e – garantia Jesus  –  os «eleitos» do Pai também. Eram esses que Jesus 'curava', que Jesus entusiasmava (pensando, eles, talvez, na restauração dum Reino Judaico ao modo de um 'regime político-teocrático'). Na sua maioria, os entusiasmados por Jesus,  perceberam mais tarde que as coisas não seriam assim tão imediatas. Porém, retiveram o essencial: seguir a Jesus significa SER SAL da Vida e, assim, SER CLAREZA!, claridade, luz! Foi isso que nos legaram: ser sal é tornar as relações humanas verdadeiramente apaladadas, apetitosas, fluidas, gostosas e conservantes, luminosas! Ninguém, doravante, poderia levar vida dupla, porque ‘Ser Sal’ é contagiar: só contagia quem em tudo o que faz  não introduz estratégias esquisitas; esses jogam sem cartas na manga, não pesam as sílabas… - são Amigos de Deus, são como Deus, são seres transparentes! CONTAGIAM, e pronto! (como diz alguém). E, quem toca gente assim, fica curada!  De quê?

Ou seja,  ir aos outros para os inquirir do não-prazer de viver, cura mesmo! De quê?

Quem conversa e conta a sua vida com aquele ‘picante’ que tão apreciamos passa-nos a nós ‘o sabor a sal’ que convém à felicidade do nosso viver.
Quem se abeire de gente assim, cura-se de muitos males, de entre eles o cinzentismo (fruto da monotonia liofilizante das suas rotinas…) e a acidez (fruto da postura sempre hiper-crítica de tudo o que a envolve…).

Jesus era ele mesmo o remédio para muitos males do viver: o seu encontro com outros abria brechas no ‘fechamento’ de muita gente e possibilitava o acesso ao trabalho e, com isso, restituía gratuitamente dignidade.

Uma grande vontade de encher a vida de vida reparamos agora, no segundo texto de Marcosparece ser incompatível com a 'religião', pois é nas praças públicas que (consta!) encontra o seu espaço ideal.

Jesus curava com sal [e não com incenso ou ladainhas, ou seja, restituía à vida o PALADAR e o SABOR de viver] e fazia-o fora dos templos [não exigia ‘doutrina’, saber de cor o Pai-Nosso ou o Credo].

Em Jesus parecia haver uma certa dificuldade em compatibilizar ‘prazer de viver’ com rituais, ‘bichanices’, mãos-postas, ‘igrejas’… Um Jesus «alternativo», laico? E porque seria?

Ser sal da vida é ser clareza! – e isso cura de tudo o que sacralizamos! Até cura do Deus dos templos... E da aproximação ao «sobrenatural» com frases feitas, um certo bichanar animista de mãos erguidas, um ar afectado com receio de «ofender a Deus». A «doença religiosa» começa nos templos, em acreditarmos que a missa-ao-domingo é tudo. Jesus mostrou que «a praça pública» é muito mais... Jesus curou-nos da doença da «missa ao domingo» - empurrou o transcendente para as praças e para as vielas! Jesus foi um «leigo alternativo», sem dúvida. A Vida que importa, de facto, não irrompe nos Templos, acontece nas praças... Os Templos foram feitos para outra coisa, mas muitos de nós transformamo-los em «sala de estar» [-«Tasse-bem-num-tasse?» -«Tasse-tasse...»]. Mas a Vida, a comunicação das dores uns aos outros e a «proximidade real» muda tudo - até o conceito, a pose e o molde-mental do sagrado, muda. Muda! E cura-os... Torna-nos Luminosos, vitrais, coloridos,  apetecíveis!

Queremos os Templos para quê?
Queremos a (nossa) vida para quê?
O que é que (Templos e vida) têm a mais e a menos?
Por onde andamos nós?



É na Praça que o Templo se cura...

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